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domingo, 14 de agosto de 2011

Passatempo


Hoje, no olhar de meu pai
Vi uma ânsia por afeto
Ele segredava em cada gesto
Que a vida era curta
E que o tempo dele se esvai
Tentava recuperar avidamente
Cada minuto perdido
Cada erro cometido
Cada sorriso não dado
Raptava-me abraçando...
Encontrava no meu silêncio
Na minha falta de jeito
Um equívoco do passado
Coitado! Fez-se em lágrimas
Lágrimas passadas, espaçadas
Dizia que me amava como desculpas
E sem culpas, esqueceu o ontem
Deleitando-se no sofá, ao fim da tarde
Como se não houvesse amanhã
Confundindo-me se aquilo
Era por sono ou quebranto...
Olhei de canto e ao vê-lo
Não sei se por medo ou amor
Sentei ao seu lado e cai em prantos.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Tanto mar, tanto mar...


Sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007, um aflição desmedida chegou ao fim. Fui sacudido por uma notícia que há anos esperava. Fui aprovado no curso de medicina da Universidade Federal de Alagoas. O crepúsculo da quase noite conflitava com a alegria que irradiava de mim, dissipando raios coloridos, os quais foram capazes de atingir a todos ali presentes, provocando uma embriaguez eufórica, que ganhou forma na expressão dos meus familiares e vizinhos, tomando-me de assalto.

Uma estranha lucidez me tocou ao ver os olhos verdes da minha mãe, aqueles olhos me diziam que um novo Fernando iria surgir. O amadurecimento chegaria desacompanhado dos louros da vitória. Entendi como se aquele momento significasse o nascimento de um filho planejado que há muito não vem. Todos comemoravam um novo ciclo, uma nova vida; inclusive eu. O nascimento foi vociferado por uma rouca voz que saia com dificuldade de um rádio cor de prata, que ganhou eco com um sonoro grito de todos os presentes naquela sala. O olhar da admiração de quem me parabenizava alimentava meu ego e alavancava minha vaidade, provocando uma névoa narcísica que tomou conta, chegando até a cegar. Envolto de elogios é difícil de enxergar longe. Havia tanto mar, tanto mar...

Nos primeiros passos na faculdade, percebi entre os colegas uma base predominantemente elitista, que preferia subir em um pedestal imaginário e de lá não descer mais. Durante o curso vi muitos colegas subindo mais alguns degraus desse pedestal, enquanto a minoria descia. O contato precoce com os pacientes nos deu a exata noção do enorme abismo social existente, e do nosso papel social, cabendo a nós decidir a quem serviríamos. O Centro Acadêmico Sebastião da Hora, através das pessoas que lá militam, foi fundamental para minha decisão de qual parcela da população irei servir.

De alguns mestres levarei comigo grandes lições, de outros nem tantas. As contradições entre o que alguns professores falam do que executam é algo que muito me incomodou durante o curso, talvez pelo medo de ser sugado por tamanha hipocrisia e torna-me também assim. Ao longo do curso há o delineamento da forma que nossos colegas irão atuar no porvir e isso é também algo muito intrigante, podendo ser decepcionante.

No olhar de cada paciente captei sensações diferentes, porém havia uma que era comum a todos. O desejo de ser tocado, ouvido atentamente, de sentir-se humano verdadeiramente. É na soma desses olhares que eu me reconheci, e vi um novo Fernando, como haviam profetizado os olhos verdes da minha mãe.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cinzas

No que nos transformamos?
Pergunto-me todos os dias
Porque tantas vezes calamos
Mergulhando num silêncio ensurdecedor
Sem saber ao certo qual o pecado
E se houve pecador

Onde foi que erramos?
Pergunto-me todos os dias
Porque tantas vezes voltamos
Esfacelando o resto do que um dia foi luz e calor
Até reduzir a sombras e mágoas
Qualquer tipo de amor.


*** Fernando Tenório